História

O corte enviesado e Madeleine Vionnet

Feminilidade como o encontro entre tecnologia e sensualidade nas décadas de 1920 e 1930

fotografia colorida de três vestidos longos sobre um fundo preto, um vestido é laranja, um é prateado, um é vermelho.

Quem foi Madeleine Vionnet e como é que ela mudou a moda nos anos 20?

por
Marta Franceschini (abre numa nova janela) (European Fashion Heritage Association)

Em moda, o final da década de 1920 e sobretudo a década de 1930 são considerados anos de silhuetas desavergonhadamente sedutoras, coladas ao corpo.

Estes são os anos das femme fatales, em que divas como Jean Harlow e Bette Davis se tornam modelos de uma feminilidade forte e fascinante. A sua fama devia-se também ao tipo de vestidos em que foram imortalizadas, tanto dentro como fora do ecrã.

Mulher com um vestido escuro, longo e elegante posa encostada em uma parede.

O que é um corte enviesado?

As silhuetas curvilíneas pelas quais ficaram conhecidas resultaram de uma intuição técnica: em vez de serem cortadas seguindo a linha reta da trama, os tecidos fluidos dos seus vestidos eram literalmente 'cortados em viés', com o padrão posicionado a um ângulo de 45° no tecido, aproveitando a sua elasticidade.

Esta técnica ficou conhecida como 'corte enviesado'. Permitiu a criação de vestidos que podiam ser drapeados - relembrando os icónicos peplos usados por deusas nas representações clássicas - e costurados de forma a moldar-se às curvas naturais do corpo feminino, sem o comprimir ou recorrer a estruturas internas para o redesenhar.

Fotografia a preto e branco de uma mulher em pé junto a um sofá, vestindo um vestido de alças, longo e escuro.
Vestido de noite elegante, num tom escuro, com um design drapeado e um painel traseiro roxo, exposto num manequim.

A designer que mais é associada ao corte enviesado - considerado uma espécie de abordagem arquitetónica ao vestuário – é Madeleine Vionnet.

Um manequim a usar um longo vestido preto sem mangas com um corpete drapeado.
Um vestido longo, sem mangas, com um design drapeado, exibido num manequim.

Quem foi Madeleine Vionnet?

Filha de um oficial da região do Jura em França, sempre em mudança, Madeleine Vionnet foi abandonada pela sua mãe quando ainda era criança.

Depois de algumas mudanças com o seu pai, ela estabeleceu-se em Aubervilliers, perto de Paris, deixou a escola aos dez anos de idade e começou a trabalhar para uma maison de couture onde trabalhava a esposa de um amigo do seu pai.

Depois de se casar aos dezoito anos, mudou-se para Inglaterra, onde trabalhou para Kate Reilly, uma costureira da corte inglesa.

Depois voltou a mudar-se para Paris, onde entrou em contacto com Madame Gerber, uma das três irmãs da maison Callot Soeurs, e começou a sua carreira no sistema de alta-costura parisiense.

Dois manequins exibem vestidos bege com saias plissadas.

Em 1912, Madeleine Vionnet fundou a sua própria Maison em Paris. As roupas que ela fazia atraíam a atenção de muitos pelos seus designs aparentemente simples e naturais. A forma como ela usava os tecidos fazia com que os vestidos se agarrassem ao corpo e caíssem suavemente acariciando as curvas femininas.

Alguns dizem que ela inventou o corte enviesado, aplicando uma técnica usada anteriormente para cortar golas na construção de todo o vestido.

Ilustração de um vestido de noite sem mangas em tons de roxo com detalhes drapeados.
Esboço de um vestido longo elegante com um corpete ajustado e tecido drapeado esvoaçante.
Ilustração de moda de uma figura estilizada com uma blusa vermelha e uma saia roxa esvoaçante.

Como Vionnet protegeu a sua alta-costura

Vionnet também iniciou uma campanha para a proteção de designs de alta-costura, para evitar que o seu trabalho fosse plagiado.

Em 1921, no seu caminho contra o plágio, Madeleine Vionnet fundou a Associação para a Defesa das Belas Artes e Artes Aplicadas. No entanto, ela eventualmente começou a documentar os seus designs fotografando-os de frente, de trás e de lado, e decidiu estampar a sua impressão digital única e irreproduzível em cada etiqueta.

Uma mulher posa com um vestido comprido, elegante, sem mangas e com uma cauda esvoaçante.
Um manequim exibe um vestido vintage de cetim marfim, comprido, com mangas curtas, gola alta e detalhes de botões no corpete.

Para além de proteger a sua criatividade, marcar as roupas desta forma colocou a sua identidade como garantia da sua autenticidade: uma consciência que parecia advir do corte aparentemente simples, mas altamente habilidoso, das suas criações.